Nos últimos 40 anos a produção agrícola brasileira se desenvolveu de tal forma que a sua produção de grãos aumentou em mais de 400%, ao passo que a área plantada cresceu em torno de 65%. Além disso 66% dos biomas brasileiros ainda são mantidos intactos, tornando o Brasil cada vez mais um protagonista para segurança alimentar das mais diversas regiões do globo. (Figura 1).

Produzindo cada vez mais, o agronegócio em 2020 somou em bens e serviços gerados R$1,98 trilhão, correspondendo a 27% do PIB brasileiro, com o ramo agrícola correspondendo a 70% desse valor (R$1,38 trilhão), de acordo com Confederação Nacional da Agricultura (CNA). 

A intensificação de boas práticas agrícolas contribuiu significativamente para que o crescimento da produção agrícola brasileira não resultasse em diminuição da vegetação nativa através da adoção de técnicas sustentáveis na agricultura que aumentaram a produtividade das plantações, como: práticas regenerativas do solo, técnicas de precisão, uso de sementes geneticamente modificadas, produtos biológicos de cultivo, dentro outros.

A fim de entender o comportamento dos agricultores brasileiros com práticas sustentáveis, a L.E.K. Consulting realizou recentemente uma pesquisa com mais de 450 produtores rurais do Brasil e dos Estados Unidos para analisar níveis de adoção de diferentes técnicas sustentáveis nos dois países (Figura 2). Os resultados são surpreendentes para o Brasil, principalmente.

De acordo com a pesquisa, os agricultores brasileiros têm adoção 17% maior que os americanos em práticas agrícolas regenerativas e sustentáveis, como rotação de culturas e plantio direto; e 12% maior em soluções de agricultura de precisão, como sistemas de irrigação inteligentes; além disso, a adoção de produtos biológicos (nutrição e proteção) é da ordem de 12% maior no Brasil do que nos EUA. 

Os agricultores americanos, por outro lado, apresentaram maior nível de uso da geração de energia renovável (eólica/solar) na propriedade – aproximadamente 10% acima.  Além disso, apenas 5% dos agricultores brasileiros responderam que participam do mercado de créditos de carbono comparado a 28% dos agricultores americanos.

Os resultados da pesquisa deixam claro que o Brasil está à frente dos Estados Unidos na adoção de práticas sustentáveis da “porteira para dentro”. A agricultura de precisão é cada vez mais uma realidade no país, mudando completamente as práticas de gestão, uso de suprimentos e produtividade em plantações. O impacto desse avanço será transformador: como exemplo, experiências da SLC Agrícola com agricultura de precisão mostram um potencial de redução no uso de defensivos químicos de até 50%. Atualmente existem mais de 350 AgTechs no país, sendo que mais de 35% delas são focadas em soluções de análise de dados do agronegócio e desenvolvimento de soluções de precisão para o setor, provando que há no país espaço para valorização de agricultores que adotam e estão cientes de práticas e tecnologias sustentáveis. Segundo o Relatório Distrito Agtech 2022, o número de AgTechs no Brasil aumentou em mais de 120% nos últimos 7 anos (Figura 3).

O mercado de carbono no Brasil ainda possui baixa penetração entre os agricultores quando comparado com EUA, mas está em franca expansão. De acordo com estudo da L.E.K. com agricultores, entre 2020 e 2024 o aumento do grau de importância do mercado de carbono deve ser de mais de 40% (Figura 4). No lado das companhias que atuam na cadeia de valor do agro, o tema também é cada vez mais relevante e parte da pauta estratégica. Um executivo sênior de uma das empresas disse “antigamente o gerente ambiental passava boa parte do tempo dele com orgõas reguladores, hoje esse tempo é para falar com o mercado financeiro e com cliente. Sustentabilidade não é “custo”, é geração de valor”. Além disso, na esfera governamental, há avanços importantes como Plano ABC+ (evolução do plano para agricultura de baixo carbono) e nas discussões do Marco Regulatório do Mercado de Carbono.

Este estudo da L.E.K. traz, dentre outras coisas, uma série de implicações para a cadeia do agronegócio:

  • O agricultor brasileiro evoluiu muito “da porteira para dentro” mas ainda há espaço para sofisticar a gestão (ex.: energias renováveis, carbono)

  • Agricultura de precisão é uma realidade, com potencial disruptivo no mercado – empresas que não se posicionarem podem perder relevância

  • O uso de biológicos veio para ficar, com perspectivas muito positivas de continuar crescendo de forma acelerada

  • O mercado de carbono no Brasil ainda é incipiente, mas há uma relevante transformação em curso – panorama em 2 anos deverá ser bem diferente

  • É essencial que governos e cadeias de consumo se posicionem para gerar os incentivos corretos e valorizar a adoção de boas práticas

A agricultura sustentável traz grandes alternativas de soluções não apenas para que o agronegócio se reinvente, mas também para que que ele crie as condições necessárias para continuar atendendo as novas demandas dos consumidores. E, como mostra claramente a pesquisa que a L.E.K. conduziu, quando se trata de adoção de tecnologias sustentáveis na agricultura, ainda há espaço e oportunidade para que as produtores, empresas da cadeia agro, governos e consumidores sejam protagonistas da transformação.